quarta-feira, 6 de julho de 2011

mãe




Você tá ali no quarto tossindo, o que significa que acordou e eu não consigo não pensar que é por minha causa. É o que tem acontecido ultimamente; tenho me sentido culpada pelas coisas negativas que vêm te acometendo. Eu sei que eu sou a principal causa delas.

Como naquele dia em que eu fui pra Argentina e você não pôde ir ao aeroporto porque tava trabalhando e eu nem sequer liguei, disse tchau, nem quando cheguei lá. Quando me contaram que você chorou eu me senti uma das piores pessoas do mundo.

Apesar de eu já ter escrito e reclamado sobre seu jeito em textos que você não vai ler, como esse aqui, e apesar de você sempre ter achado que eu 'preferia' e me parecia mais com meu pai, eu, a cada dia mais, me vejo igual a você, só que vivendo em épocas distintas. Não sei se feliz ou infelizmente, não nos vemos como amigas, dessas que trocam confidências e essas coisas.

Em nossas conversas casuais, você acaba se abrindo pra mim. Como quando você me contou sobre seu relacionamento com o pai ou quando se culpou por se dedicar muito ao trabalho e só pensar em dinheiro e ter me deixado crescer sem se tornar minha parceira. Aonde, nesse caminho até aqui, nos perdemos?

Eu queria que soubesse que não existe outra pessoa no mundo que eu admire mais e a quem eu queira mais orgulhar. Queria também deixar claro que se você sofrer, eu sofro junto; se dói em você, dói em mim também. Na verdade, o que eu mais gostaria é descobrir um jeito de te mostrar, te dizer como você sempre foi minha preferida e como eu gostaria de não te magoar nunca mais. Mas eu tenho certeza de como você sabe o quanto é difícil pra nós nos abrirmos assim, né?

domingo, 31 de outubro de 2010

colocando sal nas feridas

Esses dias eu vi pela primeira vez, depois daquilo tudo, o ônibus descendo a avenida. Eu nunca quis tanto que você estivesse nele e viesse bater à minha porta pra dizer que tava tudo bem, simplesmente porque eu sabia que isso não aconteceria mais. Nunca.

Ontem eu tomei o tang de laranja que tinha deixado pra tomar com você desde aquele domingo quando você ficaria aqui, porque sei que não pode com o de uva e não gosta do de maracujá. Foi difícil segurar as lágrimas ao pensar nisso enquanto tomava o suco, mas ao mesmo tempo foi isso: engoliu, acabou, não tem mais.

Eu ainda lembro de você durante a maior parte do dia. Tudo em volta tem algo de você. Qualquer música fala sobre você. Seu cheiro ainda me dá vontade de encostar em você, deitar no seu colo e ficar lá pro resto da vida. Contra essas coisas eu não posso lutar, mas não quero mais mendigar atenção, não quero mais migalhas, não quero mais suas palavras (que já fizeram eu me sentir a pessoa mais importante) me machucando agora, me cortando e me fazendo sangrar. O problema é que eu me acostumei com o gosto de sangue na boca, e não sei como ficar longe de você.

Eu tenho curiosidade em saber qual é a imagem que eu passo pra você hoje em dia, mas é muito mais difícil saber o que se passa na sua cabeça agora. Apesar disso, eu sei e você sabe que não há ninguém que te conhece mais como eu. Eu acompanho cada reação sua, e sei o que elas querem dizer. Isso não é mais algo incrivel e bom, porque incomoda, dói saber o que você pensa.

Sempre pensei sobre essa história de se ver mais forte do que se imaginava numa dificuldade uma grande balela, mas nos últimos tempos tenho constatado a veracidade desse fato. Eu fui cortada pela metade, mas essa metade é o meu inteiro agora e eu vou levantar a minha meia-cabeça, seguir em uma perna só e lutar por uma felicidade que vai preencher meu meio-corpo e ainda ser suficiente pra me fazer completa, de novo.

Nunca te desejei coisas ruins e não é agora que eu vou desejar. Só que, hoje em dia, a minha felicidade está acima da sua na minha lista de prioridades, como deveria ter sido desde sempre. Afinal, como já diria alguém por aí.. sou eu contra mim mesma.

Hoje eu fiz três pedidos, e nenhum deles foi ter você de volta.



Eu vou seguindo além dos arranhões
Colocando sal nas feridas
Esperando o tempo que o tempo demora para curar.

sábado, 2 de outubro de 2010

Atlantic

São Paulo, ano de 2010. Numa tarde que já quase se torna noite, os milhares de folhetos de propagandas eleitorais jogados pela rua somados a outros tipos de lixo constroem uma poluição visual. A poluição sonora fica por conta dos ambulantes e transeuntes. No meio de todos eles, eu e as nuvens escuras que vem me acompanhando há um tempo. Elas têm feito chover.

Minha rotina tem me cansado bastante. Mas é mais um cansaço mental do que físico. Minha sala de aula, minha escola, o cursinho, os professores, as matérias, o vestibular, o metrô, o calor, a marmita que eu levo e a vida que eu levo sublimam e formam essas nuvens densas que se posicionam exatamente sobre a minha cabeça. São difíceis de aguentar.

Vem o fim de semana, o Sol aparece um pouco e elas vão ficando um pouco mais leves, mas logo vão ficando pesadas e escuras de novo, com a chegada da segunda feira e todas as obrigações.

Toma conta de mim um sentimento meio árcade de fugere urbem. Um desejo de viajar, esquecer um pouco de tudo, "fugir da cidade" pra tentar conseguir, nem que por um instante, minha peace of mind.



"I need a place where I can make my bed
A lover's lap where I can lay my head
'Cause now the room is spinning

The day's beginning"

domingo, 24 de janeiro de 2010

the girl with the thorn in her side

Numa estação do metrô, aquela garota andava com seu jeito distraído em direção às escadas rolantes. Na verdade, ela só parecia distraída. De algum modo - e ela não sabe como isso começou -, presta atenção em tudo ao seu redor. Nos movimentos na rua, nos transeuntes, nos padrões pintados nas paredes.. talvez esse seja o problema.

Naquele finzinho de tarde (que já seria noite nos dias em que não há mais horário de verão), o clima, de algum modo, a incomodava. No ipod, The Corrs. A atmosfera daquela estação sempre proporcionava a ela ver a sua volta como um videoclipe. Não só aquele lugar proporcionava aquela sensação, mas esse em especial.

E no meio de todas aquelas pessoas - umas muito bem vestidas e ouras maltrapilhas - ela não parava de pensar, nem um minuto, um segundo sequer. Coincidentemente, não sabe também como isso começou. Desconfia que fora na oitava série, quando ouviu idoser e sua cabeça se tornou um turbilhão. Mas isso não vem ao caso. Pensar sobre a vida se tornou uma constante em sua cabeça.

Mais do que pensar sobre a vida, essa garota pensa e tem medo do futuro, medo esse que ultrapassa alguns limites. Sabe que não deve e não tem motivos pra ter medo, porém simplesmente não consegue ser de outro jeito.

Sempre fora poupada de sofrimento e dor por todos, não sabia o porquê. Gostaria de saber. O pior de tudo é que internamente nunca se poupou dessas situações desagradáveis e de toda culpa.

Ela não cansa de ouvir sobre o quanto cresceu de parentes e amigos distantes, mas no fundo é uma miniatura. É assim que se vê. Quem sabe daqui alguns dias essa mania de adicionar um quê de sentimentalismo a tudo não se amenize.


É melhor viver a vida do que pensar sobre como vivê-la.



http://newresolution.tumblr.com

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Crash






"It's the sense of touch. In any real city, you walk, you know? You brush past people, people bump into you. In L.A., nobody touches you. We're always behind this metal and glass. I think we miss that touch so much, that we crash into each other, just so we can feel something."

De uns tempos pra cá, comecei a prestar mais atenção nos outros do que em mim. Isso me fez perceber como os problemas que todos têm que enfrentar todos os dias significam muito.

A partir dessa minha mudança de atitude, outra coisa que me chamou atenção foi como todo mundo é parecido. Tem uma onda de negatividade que paira sobre todo mundo. Sempre há alguma coisa pra reclamar, pra lamentar. Todos sempre preocupados consigo mesmos, "mas agora, lá fora, todo mundo é uma ilha a milhas e milhas de qualquer lugar".

Pra concluir, vou usar um clichê daqueles bem piegas mesmo: O mundo tá cheio de problemas. Todo mundo os têm. O que faz a diferença é a maneira com que nós lidamos com eles.

Tô aprendendo a ser otimista. A não esquentar a cabeça. Não vai adiantar nada, nunca.

é melhor ser alegre que ser triste

Perfeição

Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja de assassinos
Covardes, estupradores e ladrões

Vamos celebrar a estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso estado que não é nação


Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta de hospitais


Nosso castelo
De cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda a hipocrisia
E toda a afetação
Todo roubo e toda indiferença
Vamos celebrar epidemias
É a festa da torcida campeã


Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado
De absurdos gloriosos
Tudo que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos
O hino nacional
A lágrima é verdadeira
Vamos celebrar nossa saudade
Comemorar a nossa solidão

Vamos festejar a inveja
A intolerância
A incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente
A vida inteira
E agora não tem mais
Direito a nada







(meio atrasada)

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

#1 - Sobre como as coisas mudam

O sono me consome.


Eu nunca tive muita história pra contar. Minha vida nunca foi digna de um livro, ou de um filme. Nunca fui exemplo pra nada. Sempre fugi de tudo e as minhas histórias geralmente aconteciam dentro da minha cabeça. Meus problemas sempre foram mais internos do que externos e, por muito tempo, eu achei que eu precisava de um psicólogo, um analista, um terapeuta. Acho que eu preciso mesmo.

É bem engraçado como as coisas seguem seu rumo natural. Você muda e nem percebe, deixa pra trás muita coisa que antes parecia essencial e agora já não faz nem diferença. Certas vezes eu acho que só eu sinto falta das coisas que antes eram essenciais. Pensar sobre isso me deixa mal. Claro que pra todos essas mudanças sempre têm um lado bom, eu não fujo à regra. Aliás, os momentos bons são a maior parte da minha vida atualmente; os ruins só existem de fato porque eu não paro de pensar sobre tudo, o tempo todo.

E, ao fim de tudo isso, eu continuo sendo a mesma de dois, três anos atrás, com uma meia dúzia de mudanças superficiais. Mudou apenas o cenário, a circunstância e a intensidade com que eu sinto isso. Hoje sou capaz de sentir mais, e não sei até que ponto isso pode ser bom, ou até mesmo, saudável. Eu pensava sobre as mesmas coisas, da mesma forma, com o mesmo negativismo perene que sempre andou de mãos dadas com minha alegria que distrai a maioria.

Ah, a vida...















De repente, eu tive vontade de escrever